“Eu sou frio como gelo,
Frieza em forma latente.
Olhar que enxerga o medo,
Estratégia oculta na mente.
Manipulação, é arte,
Sua decepção, faz parte.”
In: Rap da Psicopatia – de Felícia Rock
– “Ela sempre foi tão sociável, simpática, alegre e educada.”
– “Impossível acreditar que seria capaz disto!”
– “Como alguém tão legal fez algo tão perverso assim?”
Estas são algumas das reações mais comuns que ouvimos quando alguém descobre que uma pessoa que se mostrava empática, calorosa e solidária, não passava de uma psicopata.
A psicopatia, como sabemos, é composta por traços afetivos (falta de empatia e remorso, emoções superficiais), interpessoais (charme superficial, manipulação) e comportamentais (comportamento antissocial, impulsividade, falta de responsabilidade). Porém, nem sempre todos aparecem porque, na maioria das vezes, permanecem disfarçados, passando desapercebidos.
Mais recentemente, uma estrutura de quatro fatores foi sugerida, separados em manipulação interpessoal, afeto insensível, estilo de vida errático e comportamento antissocial.
Muitos estudiosos propõem que a psicopatia representa uma adaptação evolutiva, sugerindo que os psicopatas evoluíram para executar com sucesso estragos em um ambiente social e, por isto, nomeando-os como “predadores sociais” e descrevendo-os como parasitas e oportunistas.
Pesquisas anteriores já sugeriam que pessoas com traços psicopáticos eram predominantemente exploradoras e oportunistas e que seus traços de personalidade sombrios estariam associados a uma estratégia vital para a própria sobrevivência e para a reprodução desta ‘espécie’.
É de fundamental relevância o fato de que os estudos sempre indicaram que os indivíduos com traços psicopáticos precisam ser capazes de imitar o comportamento empático, humano e cooperativo dos outros para legitimarem sua permanência no meio de todos os demais. É uma espécie de “oportunista de sucesso”.
Há uma teoria, proposta por Daniel N. Jones, da Universidade do Texas em El Paso, que tenta explicar comportamentos predatórios em sociedades humanas.
O aspecto mais importante da Teoria do Mimetismo sugere que os indivíduos com comportamentos predatórios sabem que necessitam parecer cooperativos e normais para tirar proveito com sucesso dos outros, já que as pessoas são naturalmente cautelosas com indivíduos que não expressam medo ou remorso, considerando-os não confiáveis.
Para que os indivíduos psicopatas naveguem com sucesso no mundo social, eles precisam fingir emoções morais para parecer confiáveis e encorajar aproximações e apoios.
Em síntese, mimetismo envolve a ação ou arte de imitar alguém ou algo, geralmente para se safar ou ridicularizar.
Sabemos que as expressões emocionais – e não verbais – são fundamentais para o desenvolvimento e manutenção de relações humanas.
Também é possível compreender que identificar e categorizar corretamente as expressões faciais é uma das habilidades mais comuns e eficientes da comunicação não verbal.
Logo, decodificar as expressões emocionais faciais e sincronizá-las com um estado afetivo reais são estágios importantíssimos para alcançarmos a experiência da empatia. Mas quando consideramos um psicopata, creia, você nunca saberá o que é verdade. Porque ele vai saber lhe enganar com total maestria.
Indivíduos psicopatas também tendem a buscar sensações de risco por possuírem quase nenhum índice de medo. Isto oferece indícios claros dos motivos que os fazem serem capazes de dar golpes e explorar os outros, na medida em que o medo é um mecanismo humano capaz de controlar tais comportamentos.
Dado que os psicopatas experimentam um medo quase nulo, eles devem inventar representações relativamente honestas – o que só confirma que estes indivíduos serão capazes de fabricar essas expressões na ausência de emoção.
Em outras palavras, é possível aprender a produzir essas expressões faciais, bem como as situações apropriadas para exibi-las. Assim, mesmo que os psicopatas possam experimentar medo atenuado, é absolutamente possível que os psicopatas aprendam a imitar suas demonstrações.
Para que tal aprendizado ocorra, os indivíduos psicopatas têm que ser capazes de reconhecer o medo em outras pessoas.
Semelhante ao argumento envolvendo imitar o medo, um manipulador bem-sucedido precisa ser capaz de fingir remorso em certos contextos, a fim de parecer confiável e ganhar cooperação externa. Certas emoções, como remorso e vergonha, levam os indivíduos comuns a se comportarem de maneira moral ou honesta.
Para a maioria das pessoas, a experiência dessas chamadas emoções morais como resultado de cometer um comportamento desonesto é tão suficientemente desagradável que as leva a evitar cometer ações desonestas no futuro.
Assim, a maioria das pessoas que experimentam genuinamente remorso ou vergonha preferem se comportar honestamente para evitar o desconforto dessas emoções.
A maioria dos indivíduos é capaz de sentir emoções sociais e, portanto, tende a se comportar eticamente, mas este não é o caso dos psicopatas.
Oportunistas e trapaceiros precisam fingir emoções morais para parecerem confiáveis e encorajar os outros a socorre-los. A capacidade de fingir com sucesso o remorso lhes confere, portanto, um benefício adaptativo àqueles que desejam explorar e manipular os outros.
Incontáveis pesquisas há anos atestaram que os psicopatas são capazes de exibir emoções que não sentem, na mesma medida em que todos ao seu redor estão convencidos de que essas emoções são reais.
“Os psicopatas tendem a não ter medo e sabemos que eles não têm remorso“.
Um recente estudo, organizado pela psicóloga e professora canadense Angela Book, envolveu três experimentos para testar o mimetismo, onde indivíduos se mostraram bem-sucedidos justamente porque foram capazes de parecerem normais. E esta ‘aparência’ incluiria o mimetismo emocional.
Assim, a pesquisa confirmou que as/os psicopatas usam mimetismo para evitar serem detectados.
Porém, é fundamental lembrar que “é difícil identificar um psicopata; na verdade, eles podem parecer mais genuínos do que outras pessoas“, conforme concluiu Book.
“O fato é que a maioria das pessoas não precisa fingir emoções o tempo todo, então elas não têm nenhuma prática. Mas alguém que não sente essas emoções terá prática em fingi-las. Desta forma, se sairá muito melhor no exercício“, conclui.
Para entendermos o que pessoas que fingem empatia podem provocar em grupos sociais, familiares e até em nações inteiras (como o terrível advento do nazismo, por exemplo) precisamos entender, antes de tudo, o que é EMPATIA.
Empatia é a capacidade que seres verdadeiramente humanos têm de entender e compartilhar sentimentos, sejam de uma outra pessoa, um animal ou um personagem de ficção. É uma habilidade fundamental para se estabelecer relacionamentos e se comportar com compaixão. Envolve experimentar pontos de vista diferentes, diferentes dos próprios, permitindo, assim, comportamentos pró-sociais ou de ajuda autênticos e não forçados.
A empatia desempenha um papel vital nas relações humanas cotidianas e é a característica central daquelas que envolvem o afeto que tanto necessitamos.
TODOS NÓS.
Mas este já é assunto para o próximo post.
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