
Há um Sorriso que é de Amor
E há um Sorriso de Maldade,
E há um Sorriso de Sorrisos
Onde os dois Sorrisos têm parte.
E há uma Careta de Ódio
E há uma Careta de Desdém
E há uma Careta de Caretas,
Que te esforças em vão pra esquecê-la bem.
In: A Maldade – de William Blake
O que leva alguém a resolver matar pessoas da família do próprio marido, com quem teve um filho que provavelmente as amava?
Que visão abrupta se descortina diante desta criatura vil capaz de levá-la a planejar um enredo diabólico que envolve mortes atrás de mortes?
Como Deise teve coragem de envenenar alimentos para que qualquer pessoa viesse a morrer?
Oras. Da mesma forma que soldados conseguem continuar vivendo depois de explodirem cabeças de crianças inocentes que passam frio e fome. Ou de grupos que seguem a vida ‘normalmente’ depois ordenar a destruição de cidades ou de populações inteiras apenas porque atrapalham seus objetivos.
O primeiro caso, conhecido como do Bolo Envenenado de Torres, apresentou a um mundo sedento por misérias alheias – que nos aliviem das culpas que carregamos, no estilo “antes eles do que eu” – uma mulher diabólica chamada Deise Moura que, depois de vinte anos de relacionamento, resolveu dizimar familiares do companheiro, um a um.
É provável que seu objetivo fosse os bens desta família, já que recentemente foi constatado que ela tentou envenenar o filho e o marido também.
Aqui, você pode até pensar que, afinal, “de gênio e louco todo mundo tem um pouco”, não é mesmo? Mas vale lembrar que também carregamos traços sensíveis, depressivos, hilários, caricatos, desesperançados, desgraçados, pouco sociáveis, etecetera, etecetera.
Porém, nenhum deles nos impulsiona a matar outras pessoas. Nenhum.
Então, por que é que, do alto das nossas flagrantes fraquezas, não conseguimos antever uma tragédia quando ela claramente se anuncia? Por que ninguém desconfiou daquela mulher cheia de ódio e rancor nas entrelinhas e nos gestos cotidianos?
A resposta é curta e simples: porque ninguém jamais enxerga as verdadeiras intenções de um/uma psicopata. Mesmo que se faça um esforço sobre-humano para tanto.
Na superfície, todo psicopata parece igual ou mais ‘eficiente’ do que os ditos normais, já que são craques em esconder qualquer pista do que trazem internamente. Nada neles sugere estranheza, inadequação ou fragilidade moral. Nada.
Embora não possuam a verdadeira empatia, muitas vezes são muito habilidosos em fingir comportamentos sociáveis como simpatia, bondade, etc. As personalidades da chamada tríade sombria – narcisismo, maquiavelismo e psicopatia – podem intercalar suas manifestações nestas criaturas que, basicamente, necessitam da manipulação constante sobre as outras pessoas para sentirem-se no ‘poder’. Muitas delas prosperam criando um autêntico caos ao seu redor.
Aliás, são alguns os traços sugeridos como partes integrantes da psicopatia:
1. Charme e Carisma Superficiais
Os psicopatas costumam ser muito charmosos, carismáticos e persuasivos. E isso se torna especialmente verdadeiro com psicopatas mulheres, já que são mais emocionais do que seus colegas do sexo masculino. No entanto, um fator agravante que leva à subestimação da verdadeira taxa de ocorrência de psicopatia em mulheres pode ser as diferenças de comportamento que fazem com que elas escapem do radar da sociedade. É importante reconhecer isso, pois as psicopatas do sexo feminino podem ser tão nefastas quanto os do sexo masculino.
2. Mentiras, exageros e desonestidade
Costumam mentir compulsiva e patologicamente. Podem exagerar a verdade para conseguir o que querem, inflar seu ego ou fazer com que os outros pensem, sintam ou façam o que eles querem. As demais pessoas geralmente se sentem culpadas ou preocupadas em serem pegas em uma mentira, mas a falta de consciência de um psicopata torna a mentira uma atividade livre de culpa.
3. Ausência de responsabilidade
Eles podem cometer alguns dos atos mais cruéis, violentos e hediondos da sociedade. No entanto, eles raramente assumem a responsabilidade por suas ações. Em vez disso, eles são mais propensos a culpar os outros, dar desculpas e tentar se justificar. Este sinal é indicativo de sua falta de moral e consciência.
4. Necessidade de poder e controle
Muitos buscam (e alcançam) posições de poder e autoridade porque gostam de dominar e controlar outras pessoas. Podem procurar e garantir posições de liderança no mundo corporativo, sugerindo que há um grão de verdade no estereótipo do “CEO psicopata“.
5. Tédio e descontrole
Como não possuem algumas das conexões emocionais reais como a maioria dos indivíduos, é preciso muito mais para excitá-los, fazê-los felizes ou emocioná-los. Os psicopatas são menos impulsivos do que os sociopatas porque não são movidos por emoções fortes, mas sua resposta emocional pode levá-los a se envolverem em crimes, violência, promiscuidade sexual e uso abusivo de drogas.
6. Desrespeito por regras, leis e normas
Os psicopatas não seguem o mesmo código de ética que a maioria das pessoas na sociedade, e é por isso que muitas vezes se comportam de maneira imoral ou ilegal. Isso pode incluir ofensas menores, como comentários inadequados e palavrões, ou ofensas graves, como crime e violência. Nem todos os psicopatas são criminosos violentos, mas uma alta porcentagem daqueles que cometem crimes (especialmente crimes bárbaros) têm traços psicopáticos.
7. Ausência de medo das consequências
Muitos indivíduos que se envolvem em comportamentos criminosos vivem com medo de serem pegos. No entanto, os psicopatas nem sempre possuem essa mesma preocupação. Isso pode ser parcialmente explicado pelo fato de que é provável que tenham anormalidades em áreas do cérebro que criariam respostas normais de medo e aquelas relacionadas ao controle de impulsos e à boa tomada de decisões a longo prazo.
8. Comportamento desapegado, frio e insensível
Os psicopatas geralmente exibem um comportamento frio, insensível e apático, disfarçado de displicência. Acredita-se que diferenças na estrutura de seus cérebros limitem sua capacidade de experimentar uma gama de emoções humanas, tornando-os menos propensos a experimentar sentimentos profundos. Em situações em que os outros estão tristes, chateados, ansiosos ou animados, um psicopata pode parecer estranhamente distante ou apático.
9. Rastros de relacionamentos curtos e quebrados
Por conta da incapacidade de sentirem empatia por outras pessoas, eles sempre terão problemas para formar e manter relacionamentos íntimos. Embora possam usar seu charme ou poderes de persuasão para enganar e parecerem amáveis, eles geralmente não têm a capacidade de sustentar essas relações ao longo do tempo. É por isso que a maioria tem relacionamentos muito curtos e superficiais, bem como uma longa trilha de indivíduos que eles traíram, feriram ou transformaram em inimigos. Mas, ainda assim, vários conseguem manter relações de identificação ou de dominação por muitos anos.
Dito isto…
E é fundamental esclarecer que nem todos os psicopatas se tornarão assassinos em série. Mas TODOS os assassinos em série sempre serão PSICOPATAS.
Da mesma forma que é preciso diferenciar condições que são muito embaralhadas pelo senso comum: Psicose e Psicopatia.
Psicose e psicopatia – psicótico e psicopata – são termos que muitas vezes costumam ser confundidos entre si. Principalmente, porque os meios de comunicação costumam misturar estas noções como se definissem a mesma coisa – o que definitivamente não é verdade.
Psicose é uma doença mental que envolve a perda de contato com a realidade, o que pode incluir delírios (ideias falsas sobre o que está acontecendo ou quem se é) e alucinações (ver ou ouvir coisas que não existem). Isso afeta a maneira como o cérebro processa as informações. Ao mergulhar nestes sintomas, as pessoas podem ouvir, ver, sentir ou acreditar em coisas que não são reais.
Está associada a uma série de condições de saúde mental, incluindo a fase maníaca do transtorno bipolar bem como da esquizofrenia, do transtorno de estresse pós-traumático e transtorno esquizoafetivo.
Logo, a psicose envolve um transtorno químico do cérebro, e nada se pode fazer sem a ajuda da psiquiatria.
Entender este princípio básico é fundamental para que saibamos que existe controle e medicação para tanto.
Já a psicopatia, longe de ser uma “doença mental”, é uma condição, uma falha genética. Logo, é a natureza de seu ser que o torna incapaz de sentir empatia, aprender com a punição e diferenciar o certo do errado.
Como não se trata de uma doença, não tem nem controle, muito menos cura.
Psicopatas são como bombas-relógio: só que sem hora demarcada para explodir. Podem permanecer quietos e indetectáveis por dez, vinte ou trinta anos. Menos ou mais.
Porém, no dia em que resolverem detonar vá para bem longe deles. O mais rápido possível.
E, se desejar, envie seus comentários para psicologaheloisalima@gmail.com
Excelente abordagem !
Muito bom !!!