NINGUÉM ESTÁ ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA

Imagem Movimento Dalai Lama 3

“O homem que diz dou não dá,
Porque quem dá mesmo, não diz.
O homem que diz vou não vai,
Porque quando foi já não quis.

O homem que diz sou não é,
Porque quem é mesmo é não sou.
O homem que diz tou não tá,
Porque ninguém tá quando quer.”

In: Canto de Osanha – de Baden Powel

Há alguns dias Dalai Lama recebeu mais de 120 jovens estudantes em Dharamshala, na Índia, para onde fugiu em 1959, com apoio do Ocidente (principalmente os EUA), logo após ser expulso do Tibet – quando este foi reanexado à China.

O evento em si não atraiu muita atenção até que um vídeo dele e seu comportamento lascivo com um garotinho se tornou viral.

O menino pede um abraço a Dalai e este aceita, chamando-o para perto de si. Ato contínuo, manda o garoto beijá-lo na bochecha e, apontando para seus lábios, convidando-o a beijá-lo na boca.

Pouco depois, ele coloca a língua para fora e pede à criança para chupá-la, o que a criança se recusa a fazer.

Evidentemente não faltam, até agora, pessoas inventando desculpas que envolvem desde uma conveniente ‘pureza’ do velhote até a lenda afirmando ser este um jeito normal de comunicação budista – o que não é verdade.

Tudo, é claro, a fim de se encobrir o óbvio: se ele foi capaz de fazer uma coisa dessas diante de uma câmera ligada, imagina o que não faz na ausência de testemunhas?

Primeiro, preciso confessar que jamais admirei ou acreditei em gurus, sábios, guias espirituais, mentores, enfim, pessoas que se sacralizam a fim de passarem a impressão de que se encontram acima de qualquer suspeita. Justamente porque acredito que quanto mais alguém deseja parecer honesto, mais suspeita deve levantar.

Segundo, perguntar: você faz ideia de quantas capas de revistas, quantos programas de televisão ou filmes o médico e estuprador Roger Abdelmassih protagonizou como se fosse um ‘todo-poderoso’?

E o que dizer do médico-pediatra-pedófilo Eugenio Chipkevitch, renomado autor de livros, professor, que também se revelou outro pervertido inominável?

Alguém ainda duvida que João de Deus, mundialmente famoso, praticava monstruosidades como o psicopata que provou ser?

E quanto aos demais autodenominados “líderes espirituais”?

Fomos obrigadas a nos despir, mostrar nossas partes íntimas, fôssemos homens ou mulheres, e a praticar as coisas sexuais que ele nos obrigava fazer ou que fazia com a gente”.

Assim foi descrito, por inúmeros ‘discípulos’, o celebrado professor-budista-tibetano, conhecido por transmitir os ensinamentos de Buda no Ocidente. Sogyal Rinpoche alcançou uma vida de sucesso na França. Era dono de centros religiosos onde recebia famosos como Carla Bruni, o ex-primeiro-ministro Alain Juppé e o próprio Dalai Lama, entre outros.

Levava uma existência de luxo, com chofer, cozinheira e massagista 24 horas por dia, enquanto – heresia completa – comia carne e abusava de jovens meninas dentro do próprio templo.

Mesmo depois de um processo por abusos que, nos Estados Unidos, terminou em acordos de indenização, permaneceu cínico em suas manifestações públicas até falecer, aos 72 anos, em 2019.

Sobre outro conhecido ‘líder espiritual’, Janderson Fernandes de Oliveira, o Sri Prem Baba, de 57 anos, com milhares de fiéis ao redor do mundo, além de livros sobre ‘virtudes’, pesam acusações de abusos sexuais praticados contra suas seguidoras dentro da sua comunidade Inkiri Piracanga, em São Paulo. Para constar: em sânscrito “Sri” significa senhor, “Prem” amor divino e “Baba” pai espiritual.

Segundo os acusadores deste “pai”, ele abusava da confiança das discípulas casadas, prometendo exercícios que auxiliariam na superação de conflitos conjugais. Tais atos evoluíam de atividades tântricas para relações sexuais.

Outro ‘guru’, denunciado por abuso sexual e estupro, é conhecido como Ananda Joy, de 43 anos, nome fantasia de Diógenes Cesar Gomes Mira. O sujeito atuava como uma espécie de ‘mestre’, dono de um instituto de terapias alternativas em Piracicaba, Tantra Shala, onde ministrava sessões usando chá de ayahuasca – o controverso Santo Daime – além de cerimônias tântricas.

Por conta deste homem, um grupo de diversas regiões do Brasil se uniu, reclamando da morosidade dos processos. São mulheres que declaram terem sido forçadas a manter relação sexual com o ‘santo’.

Segundo elas, apenas dois homens estariam, neste momento, sob investigação: Diógenes Mira e Antônio Alves Marques Júnior, o Gê Marques, de 64 anos, fundador da Igreja Reino do Sol, que também se utiliza do Santo Daime. Este último responde acusações de praticar seus crimes na sede da igreja, na sua própria casa e em motéis, para onde mulheres que participavam de rituais religiosos teriam sido levadas.

Todas as vítimas relatam problemas emocionais somados à terrível sensação de culpa, vergonha, além da ausência de apoio e de coragem para continuar a lutar contra tamanha injustiça.

No Brasil pouquíssimas pessoas são punidas por crimes desta ordem. Menos ainda se responsabilizam pelo verdadeiro desterro pelo qual milhares de mulheres passam, todos os dias.

Desgraçadamente persiste uma indisfarçada predisposição de se justificar este tipo de monstruosidade que avança impunemente neste país. Ainda que ninguém assuma. Ainda que a maioria se cale.

Mas por que tanta gente se deixa iludir por este tipo de personalidade corrosiva?

O fato é que existe uma tendência em sermos naturalmente atraídos por pessoas carismáticas que, rapidamente, transformamos em líderes ou, o que é pior, objetos de adoração. 

Estas criaturas são experts em manipular o suficiente para parecerem magos capazes de fazer milagres.

Um povo sofrido procura ‘lideranças’ na esperança de ver seu desespero suplantado. Enquanto a crença na magia e no milagre sobreviver – e os tempos permanecerem incertos como estão – esse bando terá garantido um lugar ao sol.

Não é de se admirar, então, que os devotos virem maníacos por seus ídolos.

Por isto é muito importante entendermos que com a mesma rapidez que escolhemos idolatrar alguém, seja por qual motivo for, abrimos um perigoso espaço para sermos usados e abusados na nossa fé.

Daí até despertamos para a compreensão de que este ser que cegamente enaltecíamos como um deus é, na verdade, humanamente desprezível, passaremos pela dor de nos sentirmos enganados, humilhados e envergonhados.

“Não há nada mais desesperador para o homem do que, vendo-se livre, encontrar a quem sujeitar-se.” Fiódor Dostoiévski

Elisa tinha 27 anos e estava tentando se recuperar do distúrbio alimentar e da infância abusiva. Sentindo uma angústia crescente, procurou algo que a salvasse. Foi quando encontrou um prestigiado terapeuta holístico, que prometeu um antídoto para sua dor. Conta ela:

É quando você sente que tem alguma coisa ali, um alento, sei lá. Daí vem uma sensação incrível de esperança. Você já fez terapia, fez todas as coisas que te mandaram fazer e sabe que não está curada, nem perto disto. Então você sente que precisa muito seguir em frente, transformar sua vida e eles lhe dão algo. Oferecem de maneira tão convincente e amorosa que você simplesmente vai. Como eu podia duvidar daquilo

Hoje, anos depois, ela está processando a escola e o seu criador – Rogério Pizzato – por assédio sexual, dizendo que demorou muito para perceber que aquilo “mais parecia um culto perverso“. Um pilantra que garantia trabalhar com “emoções quânticas e cocriação” – coisas que nem sequer existem.

Outro caso, mais recente, envolve a escola de arte Atelier do Centro, em São Paulo, onde diversos ex-alunos acusam a instituição por exploração financeira, violência física, sexual e psicológica, promovidas pelo ‘mestre’ Rubens Espírito Santo, dono do ‘Método R.E.S.’ (iniciais do nome do malandro). Dá uma olhadinha aqui: https://www.youtube.com/watch?v=E3cZokFs-40

Segundo os ex-alunos, o local funciona como uma verdadeira seita disfarçada e onde Rubens exige ser tratado como “mestre”.

Existem outros numerosos – e rumorosos – casos envolvendo tanto homens como mulheres que afirmam terem sido enganados, submetidos a lavagem cerebral, abusados ​​ou explorados por alguém que veneravam.

Líderes sedutores e oradores poderosos geralmente possuem uma espécie de habilidade hipnótica. A persuasão deles é tão forte que podem ler uma lista de supermercado e você se sentir arrebatado/a.

Uma das chaves do carisma é a habilidade de desencadear rapidamente emoções específicas nas pessoas. Frequentemente, eles têm um arsenal de histórias – engraçadas, tristes ou angustiantes – e ouvi-las é tão bom quanto assistir a qualquer filme de Hollywood. Mas não se engane. Este manipulador está totalmente focado em garantir que você sinta e faça exatamente o que ele espera.

‘Encantadores talentosos’ usam essa mesma habilidade para diminuir suas defesas. É fácil se tornar dependente da aprovação deles e você fará qualquer coisa para obtê-la. 

Observe atentamente: você sente sua raiva ou sua dor aumentando? Seu coração fica acelerado? Não duvide: existe algo sendo preparado para acertá-lo em cheio. Estão manipulando você na direção de um estado emocional extremo e vulnerável. 

Se você sair de uma destas apresentações absolutamente pasmo/a e sentindo-se incapaz de lembrar dos pontos mais relevantes do que ouviu, pode ter certeza de que foi hipnotizado. É como se a presença física deles se sobrepusesse ao que foi dito. A ‘forma’ acima do ‘conteúdo’. Você sendo capturado/a pela performance e não pela veracidade.

Se isso acontecer, tenha muita precaução porque não é um bom sinal. Aliás, trata-se de um verdadeiro sinal de perigo. Caia fora e observe tudo com cautela e distância. Cuide da sua integridade e da sanidade mental.

Afinal, isso é tudo o que importa.

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