“E a gente canta,
A gente dança,
A gente não se cansa
De ser criança.
A gente brinca
Na nossa velha infância.”
In: Velha Infância – de Arnaldo Antunes
Você já pensou em dar outra chance para o amor?
Ainda que esta pareça uma pergunta fácil, ela desperta uma reflexão que continua sendo fonte de muitos sofrimento e solidão.
Ou passar o restante da vida sem uma companhia carinhosa com quem dividir coisas belas ou nem tanto?
Afinal, quem deseja viver ou morrer sozinha/o?
Quem não deseja uma testemunha fraterna durante a caminhada?
Ou, ainda, quem, em sã consciência, vai escolher passar anos sentada/o na frente de uma televisão ruminando aquilo que não falou, não se permitiu sentir ou não teve coragem de fazer?
Num mundo “perfeito” – e juro que eu não acredito nele – as pessoas passariam a viver juntas e permaneceriam assim até que a morte as separasse, não é?
Mas, como todos nós aqui estamos fartos de saber, este tipo de expectativa é uma cilada que cria muito mais frustações do que alegrias.
Enfim, que atire o primeiro buquê quem não se casou com o firme desejo de manter-se naquela união ad infinitum.
E ninguém se une pensando em uma separação.
Desconheço padres, rabinos, monges, pastores, funcionários de cartórios, juízes ou entidades que, durante a cerimônia envolvendo pessoas que se amam, lembrem de mencionar um, aparentemente, mísero detalhe: aquela união um dia poderá findar. E ponto.
Passado o tempo é possível que reste pouco, quase nada, daquela harmonia, do afeto derramado e da felicidade transbordante que iluminava com seus 4000 watts de vapor de sódio toda a escuridão do mundo naquele início de uma linda consagração.
Deste modo, quem sabe, o sofrimento se transforme numa bela obra de arte para a qual, mais tarde, seja possível olhar sem medos e com a convicção de ter feito o – humanamente – possível dentro do que se tinha de melhor para ser. E para oferecer.
É preciso descosturar com cuidado este fino e delicado tecido do amor findo, porque ele pode ficar tão desgastado que não servirá para cobrir nada mais além do pesar.
E a partir disto, para onde vamos?
Deixa esclarecer uma coisa: se você tem 35 ou 85 anos, saiba que nunca será tarde demais para se apaixonar serena ou loucamente.
Conheci várias mulheres que encontraram o amor nesta fase da vida – e quando/onde menos esperavam.
A primeira que me vem à lembrança foi a mãe de uma amiga, que conheceu seu grande amor aos 72 anos, depois de ficar viúva e jurar solenemente que nunca mais iria se apaixonar.
Num clube, aprendendo a dançar, seu desconhecido parceiro, 10 anos mais jovem, simplesmente se apaixonou por aquela figura bonita e cheia de alegria.
Bastou um oi para se tornarem inseparáveis.
O fato é que muitos homens e mulheres, com o tempo, tornam-se extremamente bons no quesito viverem sozinhos. Sentem-se agradecidos pelos filhos criados, pelos lindos netos, por terem boa saúde e uma vida afortunada.
Ainda que, por vezes, e sorrateiramente, anseiem por um/a parceiro/a para conversar, para se aconchegar e acarinhar.
Algumas mulheres afirmam que depois dos 50 anos as possibilidades decaem drasticamente. Garantem que ao irem a festas ou eventos, é possível contar doze mulheres livres para um cara solteiro que, brincam elas, inevitavelmente será uma péssima aposta ou um promissor amigo gay.
Isso parece bem desestimulante, concordo. E foi aí que me perguntei se a experiência da mãe da minha amiga não teria sido fruto de um mísero acaso.
Então, no decorrer dos últimos meses, resolvi perguntar para 14 homens e mulheres – entre 50 e 76 anos – sobre como teriam encontrado um amor significativo depois dos 50 anos.
Confesso que ao escutar estas histórias compreendi que existem muitas esperanças para uns se unirem a outros, independente de suas idades.
O que me surpreendeu foi ouvir histórias incrivelmente parecidas entre si.
Invariavelmente todas/os temiam já estarem velhas/os demais para o amor. A maioria apreciava o fato de ser independente e fingia bastante bem que isto lhe bastava. Todos acreditavam que estariam fadados a viver o resto de suas vidas desacompanhados.
No entanto, e ao mesmo tempo, foram criando uma espécie de resiliência diante da possibilidade de cruzarem com alguém. Perderam o medo.
E assim, quase sem querer, foram ficando genuinamente abertos a qualquer oportunidade. Não havia mais temor, pudores, falsa moral ou as inseguranças de outrora.
E você precisa entender o quão libertador pode ser esta sensação dali em diante. Não é mais charme, não se trata de usar máscaras para fingir o que não se é.
Existir passa a ser uma experiência de liberdade! E há algo mais espetacular do que olhar para um ser íntegro e verdadeiro?
Este sentimento, então, lhes permitiu absorver uma sensação de serenidade, aceitação, acolhimento e sintonia que jamais haviam anteriormente experimentado.
Assim, o amor ressurgiu em suas vidas de maneira incondicional, tanto no ato de dar quanto no de receber.
Não há mais padrões inflexíveis, cobranças vazias, sofrimentos inúteis. Não há drama. Há leveza, acolhimento e afeição.
Todos sentem que, de alguma forma, os relacionamentos, as experiências e os sofrimentos passados foram necessários para que fossem ‘preparados’ para a atual união.
Alguns relataram que, por vezes, pensavam: Onde está todo mundo? Não existe mais gente legal solteira? Cadê os homens? Cadê as mulheres?
Foi quando perceberam que faltava alguém pra dividir a cama, o almoço do domingo sem os filhos, o papo depois daquele filme de arte…. quanta coisa, né?
No entanto, existem muitas variáveis que determinam a longevidade de qualquer relacionamento. As expectativas são uma delas. A rigidez e a falta de vontade de mudar, crescer e se adaptar decididamente constituem a outra parte.
Não permanecemos as mesmas pessoas ao longo dos anos. Nem emocionalmente, nem mentalmente e muito menos fisicamente. A idade e o tempo avançam, e somos vulneráveis ao seu impacto.
Porque existe uma diferença decisiva entre a pessoa com a qual podemos nos ver vivendo e a pessoa com quem conseguimos nos imaginar envelhecendo. E isto não é o mesmo que declarar que não exista qualquer chance de nos unirmos à pessoa com quem envelheceremos com alguma qualidade de vida.
A verdade é que existem milhares de pessoas muito legais aguardando alguém como você. E, conforme o projeto lançado na semana passada, podemos fazer com que uns encontrem os outros.
Vem comigo? Isto será fantástico!
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