VOCÊ VIVE COMO UM AVESTRUZ?

Imagem Movimento Avestruz

“Prefiro ser
Essa metamorfose ambulante.
Do que ter aquela velha opinião
Formada sobre tudo.
Eu quero dizer
Agora o oposto do que eu disse antes.
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante.”

In: Metamorfose Ambulante – de Raul Seixas

Originário da África, o avestruz é considerado a maior ave do planeta.

Enquanto o falcão domina os ares, o avestruz domina a terra. Com seu tamanho imponente, pode chegar até 2,4 metros de altura e pesar 135 kg. Com suas pernas fortes e ágeis, consegue atingir a média de 64 km/h.

Como não voam, os avestruzes não são capazes de construir ninhos em árvores. Assim, eles colocam seus ovos em buracos cavados no chão. Para garantir que os ovos sejam aquecidos uniformemente, eles ocasionalmente enfiam suas cabeças no ninho para girá-los, o que faz parecer que eles estão tentando se esconder – daí o mito. Até porque um avestruz tentando se esconder de predadores desta maneira não duraria muito tempo.

Porém, a interpretação malfeita desta condição forneceu um ‘modelo’ que passou a ser usado para descrever pessoas que se escondem dos problemas, da realidade, etc.

Então, comportar-se como um avestruz serviu para descrever a falta de coragem dos seres racionais.

Efeito Avestruz: Porque e como as pessoas evitam informações.

A expressão “efeito avestruz”, caracteriza um viés cognitivo, aquele que faz com que as pessoas evitem informações que elas percebem como potencialmente desagradáveis, como, por exemplo, quando alguém evita olhar suas contas porque não está disposto a enxergar o quão atrasados estão seus pagamentos.

O termo viés cognitivo foi introduzido na década de 1970 com o objetivo de descrever padrões sistemáticos, mas supostamente falhos, de respostas a problemas envolvendo julgamentos e decisões.

O termo viés refere-se a uma espécie de distração. Uma distração do pensamento lógico e racional.

Vieses cognitivos nos levam a priorizar a informação de acordo com nossa visão das coisas e de acordo com a realidade que buscamos consolidar.

Vieses cognitivos geralmente não são conscientes e podem ocorrer com muito mais frequência do que imaginamos. E a única saída é aprender a reconhecê-los nos esforçando para pensar com um pouquinho mais de serenidade. Podemos ensinar nossos cérebros a detectá-los, entre outras coisas, desenvolvendo nosso pensamento crítico. Ao validar referências e pesquisar fontes diferentes, vamos garantindo que nosso cérebro pare de distorcer noções que impedem questionamentos, muitas vezes, vitais.

Vamos ver alguns exemplos.

Se você se deparar com um estudo que corresponda à sua opinião sobre o hábito de beber, você provavelmente não buscará validar as fontes da pesquisa. Este é um viés de confirmação. Você tende a confiar em informações que corroborem suas opiniões sem pestanejar, certo?

Estes vieses que muitos sustentam a fim de confirmar as próprias ideias são, no fundo, distorções cognitivas que podem levar a uma confiança excessiva em determinadas opiniões – ainda que falsas – e, frequentemente, a decisões erradas.

Outro exemplo. Apesar da enorme quantidade de evidências científicas da inocuidade da vacinação para o corpo humano, há muitas informações falsas afirmando que as vacinas são prejudiciais à saúde. Pessoas que acreditam nisto irão procurar dados falsos que reafirmem o tal possível dano.

As distorções cognitivas podem amplificar equívocos. Como resultado, aqueles que acreditam nos perigos da vacinação arriscam tanto sua vida quanto a vida de seus familiares.

Entende a profundidade do problema?

O viés de confirmação baseia-se na supervalorização de informações que confirmem crenças ou expectativas.

Os vieses cognitivos se originam a partir da forma como o cérebro processa as informações com as quais se depara todos os dias. O cérebro pode lidar com apenas uma quantidade finita de informações, e isto é fato.

Desta forma, muitos estímulos podem causar sobrecarga de informações e a fim de evitar ficar sobrecarregado, o cérebro usa uma série de ‘truques’. Esses métodos geralmente são eficazes, mas também podem se tornar vieses quando aplicados nos contextos errados.

Do ponto de vista da psicologia, a principal razão pela qual as pessoas evitam novos conhecimentos é esquivarem-se do impacto emocional desagradável que temem que eles tragam, pelo menos no curto prazo.

Dados surpreendentes que destoam das nossas convicções – muitas vezes bastante frágeis – costumam ser evitados de várias maneiras; a mais comum é se negar a obtê-los, ouvi-los ou lê-los; não prestar atenção suficiente a eles; interpretá-los de forma tendenciosa; fingir considerá-los apenas para agradar os interlocutores para, logo depois, simplesmente esquecê-los.

Embora algumas pessoas sejam muito predispostas a estes vieses, em uma ou em várias situações diferentes, é possível que alguém experimente várias formas de vieses simultaneamente – e o tempo todo.

Outro conceito relacionado é a exposição seletiva, que sugere que as pessoas preferem informações que apoiem suas crenças preexistentes em comparação as informações que as contradizem. Uma preferência que pode se manifestar através da evitação das informações ‘contraditórias’.

Esse conceito também está relacionado àquele viés de confirmação, que faz com que as pessoas busquem, favoreçam, interpretem e lembrem de informações de forma a confirmar suas crenças iniciais.

Como as distorções cognitivas podem ser superadas?

A principal maneira de evitar estas distorções de pensamentos é identificar o fato de que há informações adicionais que você pode considerar e analisar, simplesmente para tomar melhores decisões.

Em outras palavras, se permitir mudar, reconsiderar, revisitar convicções tolas, paradigmas sem sentido, sendo menos rígida/o e tendo mais coragem de se abrir para novas perspectivas.

Ouvir aquilo que parecer – veja bem: parecer – diametralmente diferente de você é o primeiro e mais importante passo.

O próximo envolve estar atento à existência de outros pontos de vista. Se você acha que uma taça de vinho, todos os dias, fará bem para sua saúde, por que não pesquisar sobre estudos que neguem esta premissa? Por que não entender como eles defendem esta posição? Talvez você descubra argumentos sólidos que devam ser levados em consideração.

Conhecer os argumentos de lados opostos ajuda a evitar distorções cognitivas e tomar resoluções mais consistentes e saudáveis. E nos auxilia a desafiar concepções cristalizadas que precisam e devem ser questionadas.

E não se esqueça: Há evidências de que tomamos melhores decisões quando consultamos pessoas confiáveis e empáticas como mediadores e facilitadores.

Ouvir, sentir e, apenas depois, decidir. Com mais liberdade. E este é e sempre será nosso melhor desafio.

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