“Te perturba esse amor?
Sem máscaras por trás,
Meu amor é uma arte de paz.
Te perturba esse amor?
Amor de humanidade,
Meu amor é amor de verdade.”
In: Por Quem Merece Amor – de Silvio Rodriguez
Cientistas americanos calculam que o aumento no consumo de álcool, durante a pandemia COVID-19, resultará em 8.000 mortes adicionais por doença hepática relacionada ao álcool, 18.700 casos de insuficiência hepática e 1.000 casos de câncer de fígado até 2040.
Em termos mundiais, estes números alcançarão a estratosfera.
Mas a dolorosa constatação é que, por conta de perversos interesses comerciais envolvidos no uso e na propaganda de bebidas alcoólicas, a grande maioria das pessoas ainda acredita – ou faz uma força danada para tanto – que bebida alcoólica não seja uma droga.
Mesmo que bebendo todos os dias, nos finais de semana, ou uma vez por mês – pouco importa.
Se nestes dias a pessoa:
1. Invariavelmente passar dos limites, bebendo todas e um pouco mais;
2. Não conseguir parar nem no primeiro, nem no segundo e, muito menos, no décimo gole;
3. Provocar uma pequena hecatombe com repercussões para além do que ela poderia imaginar;
4. Criar problemas que podem afetar tanto seu emprego como sua vida familiar;
5. Deixar para trás um rastro de insanidades que parece não ter fim;
6. Diante do fato de não ter morrido ou matado, vai se convencer de que bebeu “socialmente”.
Você vai mesmo insistir nisto? Vai se enganar até quando?
Avaliar a partir de quando o hábito de beber superou a linha do uso comedido ou social para transformar-se num problema, é sempre uma tarefa difícil.
Se o consumo de álcool servir para que a pessoa enfrente suas dificuldades ou evite que ela se sinta desconfortável, não tenha a menor dúvida: ali o terreno potencialmente arriscado já foi alcançado.
Nem todos os abusadores eventuais de álcool tornam-se alcoólatras, mas este é o grande fator de risco. Às vezes, o alcoolismo se desenvolve subitamente como resposta a uma mudança radical ou a um alto nível de estresse, como uma separação, ou aposentadoria ou qualquer outro tipo de perda ou desgaste pessoal. Outras vezes, ele cresce gradualmente enquanto a tolerância ao álcool aumenta.
Se você é um/a bebedor/a compulsivo/a que, se pudesse, beberia todos os dias, o perigo de desenvolver o alcoolismo já se encontra instalado.
O alcoolismo é a forma mais grave da adicção e é uma doença. Ele envolve todos os sintomas de abuso de álcool, mas também inclui outro elemento: a dependência física.
Se você necessita do álcool para fazer ou sentir uma série de coisas e para deixar de perceber outras, você pode ser um alcoólatra.
A tolerância é o primeiro sinal de alerta importante e demonstra que você precisa beber muito mais do que costumava para, por exemplo, sentir-se mais relaxada/o. Se você pode beber mais do que outras pessoas sem ficar bêbada/o, este é outro sinal relevante.
Tolerância significa que, ao longo do tempo, você precisará de mais e mais álcool para sentir os mesmos efeitos.
Se…
Se você precisa de uma bebida para acalmar as agitações do dia a dia ou para aliviar os sintomas da abstinência, saiba que isto representa uma ameaça exponencial;
Se você perdeu o controle sobre seu consumo de álcool, sem dúvida vai beber mais álcool do que você queria, por mais tempo do que pretendia – ainda que jure que não irá fazê-lo;
Se você tem um desejo sincero de reduzir ou parar o consumo de álcool, mas seus esforços neste sentido são cotidianamente vencidos;
Se você desistiu de muitas atividades por causa do álcool e está gastando menos tempo em práticas que costumavam ser importantes para você por causa deste abuso;
Se o álcool consome uma grande parte da sua energia e você gasta muito tempo bebendo, pensando em bebida ou se recuperando dos efeitos dela;
Se tem poucos ou nenhum tipo de interesse em atividades sociais que não girem em torno de beber, você pode ser um alcoólatra.
Mas lembre-se: o maior problema do alcoolismo é a negação.
O desejo pela bebida costuma ser tão persistente que a pessoa procura racionalizar sua necessidade, mesmo que diante das terríveis consequências.
Então, preste bastante atenção nestes mitos:
Posso parar de beber na hora que eu quiser.
Talvez você possa. Mas o mais provável é que isto não seja mesmo possível. De qualquer forma, esta pode ser apenas uma desculpa para continuar a beber. Talvez você não queira ou não saiba como parar. Imaginar que você pode parar sozinho faz você se sentir no controle, apesar de todas as evidências provarem o contrário.
Beber é um problema meu. Eu sou o único ser atingido por esta escolha e ninguém tem o direito de me dizer para parar.
É verdade que a decisão de parar de beber seja sua. Mas você está se enganando achando que sua forma de beber afeta exclusivamente você. O alcoolismo afeta todos ao seu redor, especialmente as pessoas que lhe são mais próximas e caras.
Eu não bebo todos os dias, por isso não posso ser alcoólatra. Ou: Mas eu só bebo vinho ou cerveja!
O alcoolismo não é definido pelo que você bebe, quando você bebe ou mesmo o quanto você bebe. São os efeitos de seu consumo que definem o problema. Se a bebida está causando transtornos em sua vida familiar e/ou profissional, você tem um problema.
Eu não sou alcoólatra porque tenho um emprego e trabalho bem.
Você não tem de ser um sem-teto ou beber na sarjeta para ser alcoólatra. Muitos alcoólatras são capazes de manter seus empregos, sustentar suas famílias e progredir nos estudos. Mas só porque você mantém um ‘bom funcionamento’ não significa que você não está colocando-se, e as outras pessoas, em perigo.
Beber não é um “vício real” como o abuso de drogas.
O álcool é sim uma droga e o alcoolismo é tão prejudicial quanto a toxicodependência. Dependência de álcool provoca mudanças no corpo e no cérebro e o abuso pode ter efeitos devastadores sobre a sua saúde, sua carreira e seus relacionamentos.
Conseguindo ajuda…
Se você está pronto para admitir que tem um problema com a bebida, você já deu o primeiro passo. É preciso uma tremenda força de vontade e uma bela dose de coragem para enfrentar o alcoolismo. Buscar ajuda é o segundo passo.
A recuperação é um processo contínuo. É uma estrada esburacada, que exige tempo e paciência. Um alcoólatra não vai, por encanto, se tornar uma pessoa diferente uma vez sóbrio. E os problemas que o levaram ao abuso de álcool terão de ser enfrentados.
E lembre-se: o alcoolismo é uma doença incurável, progressiva e fatal.
Outro dado importante é entender que muitas pessoas sempre conseguirão beber socialmente e muitas jamais poderão – ainda que tentem.
E sobre isto muito pode nos ensinar os Alcoólicos Anônimos (A.A.) que é, conforme sua autodefinição:
“Uma irmandade de homens e mulheres que compartilham, entre si, suas experiências, forças e esperanças, a fim de resolver seu problema comum e ajudar outros a se recuperarem do alcoolismo. O único requisito para ser membro é o desejo de parar de beber.”
O propósito primordial dos seus membros é manterem-se sóbrios e ajudarem outros alcoólicos a alcançarem a sobriedade.
Esta irmandade iniciou sua história em 1935, em Akron, Ohio, com um encontro entre Bill W, um corretor da Bolsa de Valores de Nova Iorque e o Dr. Bob, um cirurgião de Akron. Ambos eram considerados alcoólatras irrecuperáveis.
Sóbrio havia cinco meses, Bill W. voltou a um hotel depois de perder uma importante negociação, sentindo uma imensa vontade de beber.
Neste momento, porém, ocorreu-lhe que se conseguisse apenas conversar com pessoas que passassem pelas mesmas dificuldades diante da bebida, era bem possível que superasse – apenas por aquele dia – a enorme ânsia de embebedar-se mais uma vez.
Pressentiu que só falando com outro alcoólico em recuperação poderia manter a sobriedade.
No saguão do hotel havia um diretório de Igrejas. Assim, sorteou um nome e telefonou para o Reverendo Walter Tunks que lhe passou uma lista com dez nomes de pessoas daquela comunidade que poderia contatar.
Foi assim que Bill contatou o médico cirurgião Robert Holbrook Smith (Dr. Bob), membro do Grupo de Oxford havia dois anos e meio, e considerado um beberrão à beira do desprestigio profissional. Dr. Bob aceitou o convite mas exigiu que a reunião não durasse mais do que 15 minutos. Encontraram-se às 17 horas, mas só se despediram às 23:15.
Durante todo este tempo conversaram sobre suas vivências, angústias e sofrimentos, promessas e fracassos. Logo, perceberam que tinham uma mesma doença. Sim, uma doença caracterizada pela obsessão mental seguida de uma disfunção orgânica ou de uma dependência física.
Enfim, aqueles dois homens tinham descoberto uma aflição comum aos dois, o que criou entre eles uma imediata identificação que foi acompanhada pela mútua percepção de que nenhum dos dois desejava continuar bebendo.
E enquanto falavam de si próprios não pensaram na bebida. Por nenhum instante sequer.
Posteriormente, um disse do outro:
“Bill foi o primeiro ser humano vivo com quem eu já tinha falado que, inteligentemente, discutiu meu problema a partir de uma experiência real. Ele falou a minha língua”.
E:
“Bob foi a rocha sobre a qual A.A. foi fundada. Sob seu apadrinhamento, com um pequeno apoio meu, o primeiro Grupo de A.A. no mundo nasceu em Akron, em junho de 1935”.
Este emblemático encontro revelou queé possível se encontrar saídas para as mais delicadas e complicadas questões humanas.
Portanto, se você tem problemas com a bebida, procure ajuda o mais rápido possível. VOCÊ NÃO ESTÁ SOZINHO: http://www.alcoolicosanonimos.org.br/
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