“Nós somos todos,
Todos aflitos,
De um lado os doidos,
Do outros malditos.
Com o fim dos tempos no coração.
E pelos becos, pelas ruas, pelo mundo,
Andamos sós.
Pelas marés,
Pelos sertões,
Pelas cidades povoadas dessa terra
Andamos sós.”
In: Fim dos Tempos – de Paulo César Pinheiro
Em tempos de ódios totalmente descabidos e descontrolados, onde psicopatas saem da tumba espalhando terror sem a menor cerimônia, este país já tão sofrido e destruído é obrigado a engolir figuras horríveis autointituladas “influenciadores” de ninguém para coisa nenhuma.
Feito estradas levando nada a lugar algum, estas criaturas destilam toda sorte de podridão que carregam por dentro – para azar de quem, sem querer, passou os olhos sobre aquilo que expressam.
Graças a esta espécie não humana, nesta semana, uma jovem atriz de 21 anos que, como milhões de mulheres pelo mundo, desconhecia estar grávida, teve sua história não apenas revelada como espezinhada, difamada e julgada.
Entre sua descoberta e o parto, passaram-se poucos dias. Trata-se de algo tão comum, que existem programas de televisão dedicados à esta dolorosa questão.
A jovem atriz teve a criança e, sabiamente, entregou-a para adoção.
Seus detratores? Pessoas desprezíveis e odiosas, autointituladas blogueiras, seres abjetos e execráveis que, para alcançarem mais visualizações em seus torpes perfis, são capazes de leiloar os próprios pais ou filhos. Seus maiores algozes? Uma loira maluca conhecida por ser pérfida e cruel ao extremo e um “colunista” conhecido por identificar transtornos mentais em outro a fim de esconder os seus próprios.
Tudo em nome de ficarem no centro das atenções. Então, parem agora de dar esta atenção!
Gente deste tipo não pode ser considerada humana e é preciso entender isto de uma vez por todas.
Da mesma forma que não pode ser considerada humana, a juíza que manipula uma criança de 11 aninhos para que ela tenha um bebê – também fruto de uma violência horrenda, a mesma que sofreu a jovem atriz.
Assim como não são humanos os homens que matam suas ex’s, porque elas não suportavam mais viver o inferno a que eram submetidas.
Parece inacreditável que estes tipos psicopatas estejam ganhando tamanho espaço no Brasil. Péssimos exemplos de caráter, ainda que a mídia teime em apresenta-los como “exemplares”.
Trata-se de uma fauna pérfida, representada por homens e mulheres deploráveis, que ganham dinheiro disseminando os horrores que carregam dentro de si.
Fingem desconhecer as mazelas humanas porque, no fundo, pouco se importam com elas. São absolutamente impenetráveis à dor alheia.
Ainda que todos saibamos que a cada 11 segundos uma mulher é agredida no Brasil, e que de 2012 até 2018, o número de mulheres assassinadas por mês saltou de 113 para 372. Em 2021 os casos triplicaram, o que resultou em uma morte por feminicídio a cada dois minutos.
Importante registrar que em 1980 este intervalo era de seis horas e meia. A escalada da violência contra a mulher foi, de fato, impressionante. Aonde vamos para?
Nos últimos anos, nove entre dez casos envolvendo este tipo de violência mostram evidências de que as queixas registradas são recebidas, pelas autoridades responsáveis, com flagrante má vontade – na maioria dos casos.
Isto redunda no incontestável pavor de apresentar as denúncias. Outro fator preponderante aponta para a ausência de respeito diante dos fatos relatados e a ‘cultura’ de responsabilizar as vítimas.
Entre os incontáveis exemplos, há o de uma mulher que quis apresentar queixa de violência doméstica e ouviu: “Não foi tão ruim; pense em seus filhos”. Ou o de uma jovem que chegou a registrar uma queixa por estupro e o policial disse a ela que não se tratava de estupro porque ela havia convidado o agressor para sua casa.
Esses comportamentos têm o efeito de desencorajar as vítimas e aumentar o dano do abuso já sofrido. Essas disfunções desencorajam as vítimas de se queixarem e enviam uma mensagem de impunidade aos agressores.
Mulheres vítimas de violência sexual que são atendidas pelo SUS somam, por ano, 147.691 registros — 405 por dia, ou uma a cada quatro minutos!
E é preciso considerar que apenas 35% dos casos são reportados à alguma autoridade policial. Logo, 65% das mulheres sequer registram um B.O.
Machismo (46%) e alcoolismo (31%) são apontados como principais fatores que contribuem para este quadro. Uma em cada cinco mulheres declara já ter sofrido violência por parte de algum homem. O parceiro (marido ou namorado) é o responsável por mais de 80% dos casos reportados; 40% dos crimes acontecem dentro da casa da própria vítima.
Aparentemente, a Lei Maria da Penha, criada em 2006, não contribuiu muito para que as agressões fossem controladas. Não existem mecanismos eficientes/suficientes para fazê-la ser respeitada.
Persiste, sim, uma cultura patriarcal e machista que continua desqualificando e vitimando a mulher – e isso é inegável.
As raízes são de natureza tanto social quanto cultural e psicológica. Passam pelos decantados estereótipos sexuais, pela socialização equivocada de hábitos rasteiros frente à condição feminina, pelas falhas nas leis e nos sistemas jurídico e penal, pelo desequilíbrio econômico, pela miséria latente que aprofunda a desumanização e, finalmente, pela aceitação de que ‘em briga de marido e mulher ninguém deve meter a colher‘.
O aspecto mais perturbador é o que dá conta da quantidade de mulheres que reproduzem esta autodesvalorização submetendo-se a situações de humilhação e sofrimento mesmo quando teriam outras alternativas.
Somando-se à esta tendência – geralmente aprendida através dos exemplos advindos do comportamento familiar – a potente agressividade do parceiro, o resultado é o impiedoso e insuportável conflito onde, via de regra, a mulher subjugada serve como válvula de escape para as tensões neuróticas ou psicóticas do “parceiro” que para ela transfere todas as suas raivas e desequilíbrios. Muitas vezes, esse também é o exemplo que o homem traz das suas relações parentais, como uma mãe submissa e um pai frio e opressor.
Pais espancadores, severos ou, simplesmente, indiferentes, também produzem filhos com bastante chance de desenvolverem os mesmos comportamentos.
E filhos desamparados, vítimas de brutalidades – que tanto podem ser físicas (as mais aparentes) quanto psicológicas (quase invisíveis) – transformam-se em adultos incapazes de formar vínculos verdadeiros.
Uma criança, diante desta situação, poderá desenvolver atitudes neuróticas (todos nós) ou psicóticas (os doentes).
O grande problema é que dentro de uma sociedade combalida, que incentiva relações doentias, as desordens individuais passam quase que desapercebidas, como se fossem condutas normais. E é preciso que aconteçam grandes tragédias para que algumas pessoas se deem conta da dimensão do problema.
Outro dilema é que, na esmagadora maioria dos casos, a imagem pública do violador é a de uma pessoa exemplar, simpática, querida por todos, etc, etc.
Enquanto não denunciarmos cotidianamente estas situações – que se dão na esfera pessoal, emocional, física, sexual, econômica e social – elas se perpetuarão nas sobras, muitas vezes disfarçadas de famílias felizes e saudáveis.
A mulher ferida, sob o pesado manto da impunidade pelo qual somos todos responsáveis, vai continuar sentindo-se desprotegida e isolada. E assim, com medo, permanecerá calada. O homem agressor, diante da cumplicidade social, se sentirá autorizado a repetir e perpetuar suas atrocidades.
É bem provável que quem se utiliza de blogs, páginas e redes sociais para insultar mulheres vítimas de violência, sejam implacáveis abusadores em suas vidas no nível pessoal e profissional.
Então, senhoras blogueiras/senhores blogueiros: parem de alimentar a violência contra as mulheres!
Parem de incitar que esta sociedade injusta continue fadada, graças a vocês, a reproduzir o comportamento destes violadores, repetindo infinitamente seus doentios padrões.
Calem-se já!
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O único caminho, é continuar denunciando!